Bora Plantar BH: plantio e manutenção voluntária de matas urbanas
- Luciano Goulart
- 19 de out.
- 3 min de leitura
Já sabemos o quanto é importante criar microflorestas urbanas para melhorar o clima, aumentar a biodiversidade e trazer mais qualidade de vida para as cidades. O grande desafio, no entanto, não está apenas em plantar as mudas, mas em fazê-las crescer e se desenvolver de forma saudável.
Nossa experiência tem mostrado que simplesmente colocar as árvores no solo não é suficiente. Esses espaços, em geral, estão tomados por vegetação exótica invasora, que cresce rapidamente e sufoca as espécies nativas. Além disso, o solo urbano, muitas vezes degradado, exige cuidados especiais para recuperar sua fertilidade e criar condições favoráveis ao enraizamento e ao fortalecimento das mudas.
Plantios realizados no formato tradicional — com a simples abertura de berços em áreas dominadas por espécies invasoras, sem o devido preparo do terreno — tendem a apresentar uma elevada taxa de perda. Entre as causas mais frequentes estão os incêndios criminosos, que se espalham com facilidade nesses locais devido ao acúmulo de vegetação exótica altamente inflamável. Por isso, durante o período de seca, torna-se indispensável redobrar a atenção e adotar medidas de prevenção, reduzindo o risco de fogo e protegendo as áreas já plantadas.
Um exemplo concreto de como o manejo adequado pode transformar a realidade de um espaço é o Parque Vitória, localizado na Regional Nordeste de Belo Horizonte. O local sofria, anualmente, com incêndios criminosos. A partir de uma estratégia conjunta entre a Fundação de Parques Municipais, a Brigada de Incêndios 1 e o Bora Plantar, passamos a realizar duas roçadas durante a estação chuvosa em toda a área onde estamos desenvolvendo a restauração florestal. Essa ação tem contribuído de forma decisiva para reduzir substancialmente a incidência de incêndios no local.
A explicação é simples: os restos de capim retirados durante as roçadas entram em processo de decomposição nos meses úmidos e, ao final da estação chuvosa, já não há acúmulo significativo de matéria seca que possa servir de combustível para o fogo. Essa mudança tem transformado a evolução do plantio no parque — as mudas estão se desenvolvendo com mais vigor e vitalidade, e hoje estamos muito mais tranquilos em relação ao risco de incêndios que possam comprometer a área restaurada.
Outro desafio igualmente relevante é o aspecto humano. Todo o trabalho que realizamos é voluntário: cada um de nós tem suas atividades profissionais durante a semana e se reúne aos finais de semana para executar as tarefas de plantio e manutenção. Porém, temos observado como é difícil manter vínculos de voluntariado voltados especificamente para a manutenção das áreas. São atividades intensas, que exigem esforço físico sob forte calor, e que demandam não apenas disposição pontual, mas compromisso contínuo ao longo de todo o ano.
Sem essa dedicação constante, as mudas correm sério risco de não se desenvolver. Por isso, fortalecer o engajamento das pessoas, criar vínculos de pertencimento e valorizar a importância desse esforço coletivo são passos fundamentais para o sucesso das microflorestas urbanas.
Em síntese, o verdadeiro trabalho vai muito além do plantio inicial. Ele exige manejo disciplinado e constante: controlar as espécies invasoras, proteger as mudas jovens e recuperar a qualidade do solo. Só assim é possível transformar os plantios em ecossistemas vivos, diversos e resilientes — capazes de devolver às cidades um ambiente mais saudável e equilibrado.
Essa é a missão da nossa equipe do Bora Plantar: trabalhar juntos e com foco no objetivo de desenvolver microflorestas em locais onde antes só havia degradação e o domínio da vegetação exótica invasora. Em equipe, temos a certeza de que iremos alcançar esse propósito.
Autor: César Pedrosa é médico cardiologista e coordenador do Bora Plantar BH, grupo voluntário de plantio de micro-florestas e restauração de áreas degradadas na capital mineira. César é autor de conteúdos educativos e engajadores nas redes sociais.









































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